Hollywood
é um lugar estúpido.
Mas eu gosto. É a casa perfeita dos caricatos.
Se eu não
fosse um pouco louco, não moraria lá.
CHARLES
LAUGHTON
Nasceu
em uma família rica de proprietários de hotéis. Após a morte do seu pai,
CHARLES LAUGHTON (1899 – 1962. Scarborough, Yorkshire / Inglaterra) estudou
atuação e rapidamente se tornou um bem sucedido ator. Construiu uma filmografia expressiva, mesmo que sua figura corpulenta e seu rosto nada
bonito significassem que a maioria dos papéis principais não estava disponível
para ele. Recebeu três indicações ao Oscar de
Melhor Ator, ganhando em 1933 por “A Vida Privada de Henrique VIII”. Foi o
primeiro ator britânico a arrebatar a famosa estatueta dourada. Presença
imponente no palco e na tela, estrela de cinquenta filmes e quarenta peças,
ele infelizmente está esquecido nos dias de hoje. Extremamente talentoso e
complexo - uma lenda artística que, no entanto, vivia em conflito com seu rosto
pouco atraente e o corpo obeso. Sua personalidade abrigava uma alma torturada e
insegura, um menino-homem desajeitado. Perfeccionista, achava o teatro
frustrante, preferindo o cinema. Apesar do sucesso imediato
e duradouro, ele nunca estava satisfeito e se considerava um fracasso.
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laughton e o oscar |
Estudou
na Royal Academy of Dramatic Art de Londres e fez sua primeira aparição no palco
em 1926, em “O Inspetor Geral”, de Gogol. Depois de performances bem sucedidas
no
West End londrino, estreou no cinema em 1928, numa comédia, “Blue Bottles”. Na peça “Mr
Prohack” conheceu sua futura esposa, Elsa Lanchester, com quem se casou em
1929. Em 1931, se apresentou em Nova York e no ano seguinte faria seu primeiro
filme em Hollywood, “The Old
Dark House / A Casa Sinistra”. Retornou à Inglaterra em 1933 para peças de Shakespeare no Old Vic: “Macbeth”, “Henrique VIII”, “Medida por
Medida” e “A Tempestade”. Em 1936, em Paris, brilhou em clássico de Molière na Comédie Française.Exuberante,
CHARLES LAUGHTON era um ator excelente, encarnando personagens sádicos e cordiais,
assassinos e advogados, artistas e simplórios, e todos com o mesmo poder de
convicção. Voz poderosa e penetrante, interpretava com paixão e imaginação. Muito
longe do protótipo de um astro pela sua gordura, traços exagerados e voz
peculiar, tornou-se uma presença estelar no cinema de
Hollywood, especializando-se em papéis ambíguos.
Seu modo particular de abordar o personagem conseguia dotá-lo de um pano de
fundo de moralidade suspeita. No
histórico “A Vida Privada de Henrique VIII” (1933), fez um monarca vigoroso.
Pouco depois foi a vez do tirânico Capitão Bligh em “O Grande Motim” (1935) e
outros filmes populares. Originalmente escalado para “David Copperfield / The Personal
History, Adventures, Experience, & Observation of David Copperfield the
Younger” (1935), clássico de George Cukor adaptado de Charles Dickens, abandonou
as filmagens. Na época, nos bastidores, foi dito que ele
assediou sexualmente o ator infantil Freddie Bartholomew. WC Fields ficou com o
papel de Micawber. Convidado para “O Corcunda de Notre Dame” (1939), fantástica adaptação de Victor Hugo, hesitou diante
do deformado e patético Quasimodo, já que tinha problemas com sua própria
aparência. Por fim, assumiu o projeto, tornando-se o seu filme mais popular.
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laughton e elsa lanchester |
Em
1937, em sociedade com Erich Pommer, formou sua própria companhia
cinematográfica, a Mayflower Pictures Corp., produzindo três filmes, um deles
dirigido por Alfred Hitchcock. No mesmo ano, estrelou a versão
cinematográfica do romance “I, Claudius”, de Robert Graves, que terminou
abandonada após os ferimentos sofridos por Merle Oberon em
acidente de carro. Com a II Guerra Mundial, a produtora fechou
as portas e CHARLES LAUGHTON voltou a Hollywood.A
voz clara e distinta do ator fez muito sucesso em leituras no palco de grandes
obras da literatura, viajando pela América do Norte e Inglaterra. As leituras
começaram como entretenimento para as tropas hospitalizadas na Segunda Guerra
Mundial, e mais tarde se desenvolveram em performances públicas aclamadas e
altamente populares. Foram centenas de espetáculos. No palco, de
uma sacola cheia de livros, selecionava trechos de obras de Charles Dickens, Thomas Wolfe, William Shakespeare, Esopo e, muitas vezes, a “Bíblia”. Muitas
das leituras foram preservadas em gravações de áudio e na série
de televisão “This is Charles Laughton” (1953). O
ator não temia a experimentação, colaborando com Bertolt Brecht em 1947 em “A
Vida de Galileu”. Na direção, Joseph Losey. Um de seus sucessos mais notáveis
no teatro foi ao interpretar o Diabo em “Don Juan no Inferno”, de
Bernard Shaw, em 1950. Ele dirigiu várias peças na Broadway. Desde um
poema épico da Guerra Civil, em 1953, estrelado por Tyrone
Power, a “A Nave da Revolta”, em 1954, um sucesso estrelado por Henry
Fonda. Também foi um conceituado
professor de teatro, tendo entre seus alunos, Albert Finney.

Para
dissipar sua solidão, CHARLES LAUGHTON procurava a companhia de belos jovens,
muitos dos quais começavam como seu massagista ou assistente pessoal. Com
alguns deles, desenvolveu longos relacionamentos românticos. Ele era feliz e
produtivo quando envolvido nesses romances, mas quando se separavam, entrava em
crise. Em “O Grande Motim”, a homofobia de Clark Gable criou tanta tensão no
set que o produtor Irving Thalberg teve que intervir. Casado com Elsa
Lanchester, ele estava profundamente descontente com suas tendências
homossexuais. Permaneceu com a esposa até sua morte e, embora tivesse vários
amantes, nunca teve um parceiro significativo.
Embora
temesse um escândalo, sempre trazia amantes para as filmagens para ajudá-lo a
relaxar. O seu pior medo se materializou enquanto dirigia Henry Fonda em “A Nave da Revolta” (1954). Fonda, irritado com o desenvolvimento da peça,
atacou o diretor na frente de todos: “O que você sabe sobre os homens, sua
bicha gorda?”. Parte da homofobia internalizada de CHARLES LAUGHTON foi
aliviada em 1960, depois que ele e sua esposa compraram uma casa em Santa
Monica, ao lado do escritor gay Christopher Isherwood e seu companheiro Don
Bachardy. Os dois casais se tornaram amigos íntimos, e o orgulho gay de
Isherwood e Bachardy ajudaram o ator a alcançar uma certa aceitação emocional. Dirigiu
apenas um filme, “O Mensageiro
do Diabo / The Night of the Hunter”, de
1955, estrelado por Robert Mitchum, Shelley Winters e Lillian Gish. Embora
tenha sido um fracasso de crítica e bilheteria, desde então vem sendo citado
como um dos maiores filmes da década de 1950. Na vida privada, CHARLES LAUGHTON
tinha o ator Burgess Meredith como um dos seus melhores amigos. Sensível,
apaixonado por arte japonesa, era um conhecedor, acumulando uma
coleção valiosa.
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laughton e lanchester |
Seu
casamento não era feliz, e eles seguiam caminhos separados na maior parte do
tempo, embora nunca se separassem. Um dos últimos projetos de direção dele foi
um espetáculo que criou para a esposa, em 1960, “Elsa Lanchester – Ela Mesma”. Após
a morte dele, Elsa escreveu um livro alegando que eles nunca tiveram filhos
porque não faziam sexo, mas não se considerava enganada, sabia que ele era
homossexual quando se casaram. Atormentado pelo desejo, o ator vivia
envergonhado de seus anseios homossexuais. Nunca discutiu publicamente ou
declarou sua homossexualidade, exceto para sua esposa.
Suas
últimas peças foram “Sonhos de Uma Noite de Verão” e o papel título de “Rei
Lear”, em 1959. Foi muito elogiado por seu retrato de um senador desonesto em
seu derradeiro filme, “Tempestade em Washigton”. Em 1962, diagnosticado com
câncer na coluna, seu peso caiu para apenas quarenta quilos. Ficou em coma e morreu em dezembro do mesmo ano. Talento criativo completo,
certa vez Daniel Day-Lewis o citou como uma de suas inspirações: “Ele foi o melhor ator de cinema da sua época. Tinha algo notável. Sua
generosidade como ator alimentava seu trabalho e impedia o público de tirar os
olhos dele em cena.”
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no premiado “a vida privada de henrique VIII” |
DEZ FILMES
de CHARLES LAUGHTON
(por
ordem de preferência)
01
Os
MISERÁVEIS
(Les
Misérables, 1935)
direção
de Richard Boleslawski
elenco: Fredric
March, Cedric Hardwicke, Rochelle Hudson e Florence Eldridge
02
TESTEMUNHA
de ACUSAÇÃO
(Witness
for the Prosecution, 1957)
direção
de Billy Wilder
elenco: Tyrone
Power, Marlene Dietrfich, Elsa Lanchester e Una O'Connor
03
O
CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback
of Notre Dame, 1939)
direção
de William Dieterle
elenco: Maureen
O´Hara, Cedric Hardwicke, Thomas Mitchell e Edmond O´Brien
04
O GRANDE MOTIM
(Mutiny on the Bounty, 1935)
direção
de Frank Lloyd
elenco: Clark
Gable, Franchot Tone, Donald Crisp, Spring Byington e Movita
05
TEMPESTADE
sobre WASHINGTON
(Advise
& Consent, 1962)
direção
de Otto Preminger
elenco: Franchot
Tone, Lew Ayres, Henry Fonda, Walter Pidgeon, Don Murray, Peter Lawford, Gene
Tierney e Burgess Meredith
06
SPARTACUS
(Idem, 1960)
direção
de Stanley Kubrick
elenco: Kirk
Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, Peter Ustinov, Nina Foch, John Gavin e
John Ireland
07
O SINAL
da CRUZ
(The Sign
of the Cross, 1932)
direção
de Cecil B. DeMille
elenco: Fredric
March, Claudette Colbert e Elissa Landi
08
ESTA
TERRA é MINHA
(This
Land Is Mine, 1943)
direção
de Jean Renoir
elenco: Maureen
O´Hara, George Sanders, Walter Slezak e Una O´Connor
09
Os AMORES
de HENRIQUE VIII
(The
Private Life of Henry VIII, 1933)
direção
de Alexander Korda
elenco: Robert
Donat, Merle Oberon e Elsa Lanchester
10
O RELÓGIO
VERDE
(The Big
Clock, 1948)
direção
de John Farrow
elenco: Ray
Milland, Maureen O`Sullivan, George Macready e Elsa Lanchester
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