Fiquei encantado com dois dos oito filmes concorrentes ao OSCAR
2015 “Birdman ou (A Inesperada Virtude da
Ignorância) / Birdman” e “O Grande Hotel Budapeste / The Grand Budapest Hotel”. Os outros são certinhos,
acomodados, sem riscos ou toque de inovação, inclusive o subestimado “Boyhood:
Da Infância a Juventude / Boyhood”, que vale mais pelo projeto incansável do
diretor do que por mérito do resultado nas telas. Alguns dependem exclusivamente do seu
protagonista para que seja memorável, já que todo o resto se arrasta numa
narrativa regular. São eficazes para o público, mas definitivamente não precisam
de nenhum Oscar.


Enfim,
a partir do convite das colegas blogueiras do “DVD, Sofá e Pipoca”, segue minha
lista de favoritos ao OSCAR 2015, e façam suas apostas!
MELHOR FILME
BIRDMAN ou (A INESPERADA VIRTUDE da IGNORÂNCIA)
Um
filme que discute arte, fama, decadência, o rolo compressor da indústria cultural e o vazio
generalizado. Tudo isso dentro de um drama rotulado como comédia (nada
encontrei de cômico, muito pelo contrário) absurdamente complexo, potente e
perturbador. O resultado é outro inquietante e sensacional trabalho do mexicano
Iñarritú, tão memorável quanto em “Amores
Brutos / Amores Perros” (2000), “21 Gramas / 21 Grams” (2003) e “Biutiful / Idem”
(2010). Merece ser o grande vitorioso da noite. Também ficaria feliz com a
estatueta dourada nas mãos do alucinado “O Grande Hotel Budapeste”. Sempre que Wes Anderson
anuncia um novo filme, podemos esperar algo, no mínimo, completamente diferente
dos padrões hollywoodianos. A indicação desta versão cinematográfica refinada (e
bastante pessoal) do clássico literário de Stefan Zweig parece indicar que
finalmente a Academia se deixou seduzir pela ousadia do diretor.
MELHOR FILME ESTRANGEIRO
IDA (idem)
Com o
Brasil mais uma vez fora da disputa do Oscar – o candidato nacional, “Hoje Eu
Quero Voltar Sozinho”, não está entre os selecionados à indicação de Filme
Estrangeiro –, fiquei sem saber se torcia por “Tangerinas / Mandariinid” ou “Ida”. Terminei optando pelo delicado drama do
polonês Pawel Pawlikowski. O longa é um olhar sobre o período em que a Polônia
esteve sob o domínio nazista. O enraizamento do antissemitismo nas relações
cotidianas, o embate entre crença e liberdade, tudo permeia o roteiro complexo.
Nesta viagem de descoberta - real e simbólica -, em tom sóbrio ampliado pela
fotografia em preto e branco, o diretor constrói uma obra que parece um cartão
postal trágico, um pequeno curativo sobre uma cicatriz que não se fecha no
imaginário dos poloneses.
MELHOR ANIMAÇÃO
O CONTO da PRINCESA KAGUYA
(Kaguyahime no Monogatari)
Visualmente
é belíssimo. Tem um olhar muito próprio. Animado como se fosse feito com nada
além de lápis de cor e aquarelas – fazendo literalmente cada quadro do filme
parecer com algo que poderia ser pendurado em uma galeria. Mas o que é
realmente especial sobre essa animação japonesa de Isao Takahata é a forma como interage com a
história e como ela é contada. Nos momentos mais tensos e cheios de pânico, as
linhas se tornam mais irregulares, as imagens mais indistintas. As cores, por
sua vez são silenciadas dando espaço para os tons pretos e cinzas. O oposto
pode ser dito dos momentos surreais onde as cores ficam mais brilhantes e as
imagens mais nítidas. O filme é puro deleite visual do
início ao fim. Merece com louvor a estatueta.
MELHOR DIREÇÃO
ALEJANDRO GONZÁLEZ INÁRRITU
O
prêmio de Melhor Direção anda quase sempre junto com o de Melhor Filme, mas eu
gosto quando esta rotineira situação não acontece. Este ano filme e diretor
estão casadíssimos, ambos merecem a estatueta. “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” é uma obra-prima
surpreendente e ousada. Talvez a chance de Richard Linklater levar o Oscar seja
maior. Pode ser, mas seria uma vitória absurda. Ele dirige e escreve roteiros
com naturalidade e fluidez, acima da média, mas sua trajetória ainda não convence plenamente. Já Iñárritu mostra garra e talento desde sempre.
MELHOR ATRIZ
JULIANNE MOORE
Finalmente
chegou a hora e vez de Juliane, uma atriz que acompanho deste os tempos de
Robert Altman e dos primeiros filmes de Paul Thomas Anderson. Ela é a favorita ao prêmio, e merecidamente. Sua incômoda placidez em “Para Sempre Alice / Still Alice” nos deixa
“engasgados”. Evitando o tom melodramático e a catarse emocional, o drama é
todo centrado nela, que dá conta do recado tranquilamente. Há sensibilidade na
atuação da atriz, impedindo que o filme mediano se torne um mero retrato
deprimente de uma personagem definhando diante de nossos olhos. Sempre contida
e segura do tom de sua interpretação, ela nos conecta a este papel cheio de
nuances, mesmo quando a adocicada trilha sonora insiste em tentar nos levar às
lágrimas. Além da agudeza do desempenho de Moore, as concorrentes são previsíveis,
com exceção da francesa Marion Cotillard (que prefiro noutro filme lançado em 2014, “Era Uma Vez em Nova York /
The Immigrant”). Rosamund Pike, Reese Whiterspoon e Felicity Jones dão vida,
honestamente, a performances corretas, nada mais. Somente foram indicadas pela escassez
de boas atuações femininas no ano passado.
MELHOR ATOR
EDDIE REDMAYNE
A Academia
adora atores que se transformam interpretando personagens que sofrem com algum
tipo de doença ou limitação física, especialmente quando a conclusão é trágica.
Portanto, este ano, Redmayne deve levar o Oscar. Não quero dizer que não
mereça, muito pelo contrário, realmente é a melhor atuação masculina de 2014. Não será nenhuma novidade se o intérprete de “A Teoria de Tudo / The Theory of Everything” sair
como vitorioso. O modo como interpreta as diversas fases da doença é incrível
e digno de nota. Isso sem contar o fato de que ele conseguiu ficar fisicamente
muito parecido com o biografado. O próprio Stephen Hawkins elogiou o trabalho
do ator. Seu maior rival na
disputa, o chato Michael Keaton, está impecável em “Birdman”, na melhor performance da sua carreira. Faz uma vítima do sistema, beirando o alter-ego. Benedict
Cumberbatch, com cara de galinha choca inglesa, não me seduz. Um saco sua
faceta estranha, antipática e arrogante. O roteiro indica que o matemático Alan
Turing, considerado o pai da computação, era assim, mas a persona do ator se
revela da mesma maneira noutros filmes. Entre os concorrentes, senti a ausência
de Ralph Fiennes, muito
bom como o Gustave de “O Grande Hotel Budapeste”, e David Oyelowo, que tem em “Selma
/ Idem” uma consistente interpretação como Martin Luther King.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
LAURA DERN
Sou
daqueles que toda vez em que Meryl Streep aparece como candidata ao Oscar, não
hesito em torcer por ela. Atriz fabulosa, tem uma carreira impecável e está há
quase quarenta anos no topo, algo raríssimo na história de Hollywood (lembro-me
de Ingrid Bergman, Katharine Hepburn, Joan Crawford, Bette Davis, Elizabeth Taylor e Marlene Dietrich). Como a bruxa má da decepcionante fábula
musical “Caminhos da Floresta / Into the Woods”, mais uma vez rouba a cena. Sua participação
pra lá de especial vale o ingresso. Mas este ano o Oscar deve ser levado pra
casa por outra veterana bem-preparada: Laura Dern, cativante em “Livre / Wild”. Ela é o ponto alto
desse simpático road-movie. Inspiradíssima,
apaixonante, muito bem aproveitada como a mãe da protagonista. A estatueta estaria bem também nas mãos
de Patricia Arquette, apesar de eu não ser fã de “Boyhood”. Por fim, Emma
Stone surpreende no pequeno papel de filha desajustada em “Birdman”. Quem destoa do grupo é Keira Knightley.
Bonitinha e coisa e tal, carismática, esforçada, não faz feio, mas não passa daí.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
J. K. SIMMONS
A
categoria mais empolgante deste ano. Sou fã de Robert Duvall, Mark Ruffalo,
Ethan Hawke e Edward Norton. Com exceção do adorável Hawke, que mais uma vez parece interpretar ele mesmo, todos os outros estão excelentes. Norton
brilha ao fazer uma paródia de si mesmo em “Birdman”. Mas tudo indica que Simmons será
o premiado. Ele dá um show no bonito
e tenso “Whiplash – Em Busca da Perfeição / Whiplash”. É o papel de sua vida! São vários aspectos que
o agigantam durante o filme: seu olhar, a forma imponente com que se coloca
diante dos alunos e, principalmente, a maneira sutil como demonstra as emoções.
Ele é mestre e vilão. Aceito sua vitória (embora seja o protagonista do
filme, jamais coadjuvante), mas meu coração é de Norton, ator injustiçado, um
dos melhores de sua geração.
MELHOR FOTOGRAFIA
EMMANUEL LUBEZKI
Ele
levou o Oscar do ano passado pela ficção científica “Gravidade / Gravity”, mas tem chances de repetir o feito. A
fotografia de “Birdman” deslumbra e já arrebatou o prêmio do Sindicato dos Diretores de Fotografia dos EUA. Apaixonei-me pelo
trabalho do mexicano Lubezki desde “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça / Sleepy
Hollow” (1999), mas pularia de alegria se houvesse uma reviravolta e o talentoso Roger Deakins levasse a
estatueta. Aos 65 anos, concorre pela décima segunda vez e nunca ganhou.
LISTA COMPLETA
Os FAVORITOS do Blog O FALCÃO MALTÊS
MELHOR FILME
MELHOR FILME
BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)
(Alejandro González Iñárritu, John Lesher,
Arnon Milchan
e
James W. Skotchdopole / New Regency Pictures,
M Prods e Le Grisbi Productions)
MELHOR DIRETOR
ALEJANDRO GONZÁLEZ INÁRRITU
(“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”)
MELHOR ATRIZ
JULIANNE MOORE
(“Para Sempre Alice”)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
LAURA DERN
(“Livre”)
MELHOR ATOR
EDDIE REDMAYNE
(“A Teoria de Tudo”)
MELHOR ATOR COADJUVANTE
JK SIMMONS
(“Whiplash – Em Busca da Perfeição”)
MELHOR FILME em LÍNGUA ESTRANGEIRA
IDA
(Polônia | Dinamarca | França | Inglaterra)
MELHOR DOCUMENTÁRIO
CITIZENFOUR
MELHOR ANIMAÇÃO
O CONTO da PRINCESA KAGUYA
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
ALEJANDRO G. IÑÁRRITU, NICOLÁS GIACOBONE,
ALEXANDER DINELARIS JR. e ARMANDO BO
(“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
ANTHONY MCCARTEN
(“A Teoria de Tudo”)
MELHOR FOTOGRAFIA
EMMANUEL LUBEZKI
(“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”)
MELHOR EDIÇÃO
SANDRA ADAIR
(“Boyhood: Da Infância a Juventude”)
MELHOR TRILHA SONORA
ALEXANDRE DESPLAT
(“O Grande Hotel Budapeste”)
MELHOR CENOGRAFIA
ADAM STOCKHAUSEN, STEPHAN O. GESSLER, GERALD SULLIVAN
e STEVE SUMMERSGILL
(“O Grande Hotel Budapeste”)
MELHOR FIGURINO
MILENA CANONERO
(“O Grande Hotel Budapeste”)
MELHOR DOCUMENTÁRIO em CURTA-METRAGEM
DISQUE-CRISE PARA VETERANOS
MELHOR ANIMAÇÃO em CURTA-METRAGEM
O BANQUETE
MELHOR CURTA-METRAGEM em 'LIVE-ACTION'
THE PHONE CALL
MELHORES EFEITOS VISUAIS
PAUL FRANKLIN, ANDREW LOCKLEY, IAN HUNTER e SCOTT FISHER
(“Interestelar”)
(“Interestelar”)
MELHOR MAQUIAGEM e CABELO
FRANCES HANNON e MARK COULIER
(“O Grande Hotel Budapeste”)
MELHOR CANÇÃO
“GLORY”, de JOHN STEPHENS e LONNIE LYNN
(“Selma”)
MELHOR EDIÇÃO de SOM
MARTÍN HERNÁNDEZ e AARON GLASCOCK
(“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”)
MELHOR MIXAGEM de SOM
JON TAYLOR, FRANK A. MONTAÑO e THOMAS VARGA
(“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”)