julho 09, 2012

********** A INTIMIDADE segundo ANDRÉ TÉCHINÉ

marie-france pisier e“barocco”

 
Sou apreciador de ANDRÉ TÉCHINÉ (1943. Valence / França), um dos grandes realizadores franceses vivos. Desde os anos 80, ele se revela um irrepreensível estudioso das relações amorosas. São dele “Hotel das Américas”, “Rendez-Vous” e “Rosas Selvagens”, excelentes melodramas feitos de imagens inesquecíveis. Depois de “Alice e Martin”, o cinema de Techiné, fundamental, por vezes ríspido, sempre de matriz clássica, perdeu um pouco de sua força. Em 2007, mostrou que ainda tinha algo a dizer com “As Testemunhas”, um vigoroso tratado sobre a Aids, reafirmando a singularidadede sua obra. O mesmo não se repetiu no seu longa mais recente, “Imperdoáveis / Impardonnables” (2011), onde um escritor (André Dussollier) se recolhe em Veneza para escrever e conhece uma agente imobiliária (Carole Bouquet) que lhe desvia a atenção da escrita. O seu envolvimento vai desenvolver-se num duplo sentido: lidando com a surpresa do amor e enfrentando as dúvidas sociais que a sua ligação suscita.
 
andré téchiné
O primeiro filme desse ex-crítico da revista “Cahiers du Cinéma” passou despercebido. Os três seguintes, sobretudo “Barocco”, um elegante exercício de estilo no qual a cor exerce um papel importante, provocaram muitos elogios. Para ANDRÉ TÉCHINÉ, o desenrolar de uma história deve ser concebido como justaposição de sequências fortes. Autor de filmografia sólida, tornou-se reconhecido ao vencer o prêmio de direção em Cannes 1985. 

Durante muito tempo alternou-se entre o teatro e cinema, ao mesmo tempo em que lecionava. Cineasta perfeccionista e surpreendente, atraído pelo melodrama, faz da sinceridade o princípio nada ingênuo, e até mesmo incômodo, da dramaturgia. Homossexual assumido, ele filma num tom que combina a crônica social e a contemplação mais íntima, de acordo com uma lógica melodramática que o coloca na linhagem de Max Ophuls, Jean Renoir, Douglas Sirk ou François Truffaut.
téchiné

A filiação do cineasta nesse espaço do melodrama, quer dizer, num sistema de narrativas em que as componentes afetivas se expõem sempre como elementos de uma complexa dinâmica social intimista, jamais beira o superficial ou o tosco. Afirmo isso, ao recordar o crítico português João Lopes: a degradação “telenovelesca” se exprime através de um contínuo desrespeito pelo classicismo melodramático cinematográfico. Assim, por exemplo, após o êxito das telenovelas, desde o mais banal senso comum até alguns discursos jornalísticos, a palavra melodrama passou a ser associada a um convencionalismo leviano e anedótico. Acima de preconceitos tolos, o melodrama nunca deixou de ter o seu espaço primoroso e o cinema de ANDRÉ TÉCHINÉ, íntimo e pessoal, prova isso.

  DEZ FILMES de TÉCHINÉ

01
BAROCCO 
(Idem, 1976)

elenco: Isabelle Adjani, Gérard Depardieu, Marie-France Pisier
e Jean-Claude Brialy

Jovem casal desloca-se para porto do norte da Europa, durante uma campanha eleitoral. Samson é assassinado. O assassino apaixona-se por Laure que termina por aceitá-lo, na condição de que ele se pareça e se comporte como o namorado dela que ele matou.

 02
As IRMÃS BRONTE 
(Les Soeurs Bronte, 1979)

elenco: Isabelle Adjani, Marie-France Pisier, Isabelle Huppert,
Pascal Greggory e Jean Sorel

Na Inglaterra do século XIX, três irmãs praticam assiduamente a escrita e seu irmão é um pintor de temperamento apaixonado. Uma delas é a única a conhecer o êxito literário, após ter visto morrer o irmão e depois suas irmãs.

03
O SEGRÊDO do AMOR 
(Hôtel dês Amériques, 1981)

elenco: Catherine Deneuve e Patrick Dewaere

O primeiro trabalho do diretor com sua atriz preferida, Catherine Deneuve. Em Biarritz, tarde da noite, no contorno de uma rua, uma mulher cruza o caminho de um estranho. Ela conduz um carro. Ele atravessa a rua. E o acidente acontece, sem gravidade, sem outra consequência se não reunir dois mundos distantes. A partir do encontro, ele se entrega a uma busca obstinada para reencontrá-la, mas ela foge dele. O que se esconde por trás da beleza luminosa, dos silêncios constrangidos, das expressões distraídas desta desconhecida encerrada numa solidão?

04
RENDEZ-VOUS 
(Idem, 1985)

elenco: Lambert Wilson, Juliette Binoche, Wadeck Stanczak
e Jean-Louis Trintignant

Melhor Diretor no Festival de Cannes. Jovem atriz chega a Paris com sede de sucesso. Pelo caminho cruza com um empregado de uma agência imobiliária, que a ajudará a se instalar. Ela gostaria que a relação entre eles fosse fraternal, mas ele passa a nutrir por ela um um amor desmesurado. Outros homens surgem na vida da garota.

05
NÃO DOU BEIJOS 
(J’embrasse Pas, 1991)

elenco: Philippe Noiret, Emmanuelle Béart e Manuel Blanc

Jovem provinciano, ingênuo e inexperiente, muda-se para Paris em busca do sonho de ser um ator famosa e acaba se prostituindo.

06
MINHA ESTAÇÃO PREFERIDA 
(Ma Saison Préférée, 1993)

elenco: Catherine Deneuve e Daniel Auteuil

Um dos maiores sucessos de público e crítica da carreira do diretor. Um irmão e uma irmã se reencontram a partir do momento em que a mãe perde a lucidez e finalmente a vida. Entre a vertigem do encontro e a dor da separação vindoura, eles tomarão enfim consciência de seus verdadeiros lugares no mundo.

07
ROSAS SELVAGENS 
(Les Roseaux Sauvages,1994)

elenco: Élodie Bouchez, Gaël Morel e Stéphane Rideau

César de Melhor Diretor. Um dos filmes mais marcantes dos anos 90. Quatro adolescentes moram numa pequena cidade do sudoeste da França. Eles se preocupam com a guerra da Argélia e o vestibular. Nas margens do rio Garonne, no meio dos roseirais selvagens, expõem, com paixão, ideias políticas e sentimentais.

08
Os LADRÕES 
(Les Voleurs, 1996)

elenco: Catherine Deneuve, Daniel Auteuil, Laurence Côte
e Benoit Magimel

Reencontro do trio que fez “Minha Estação Preferida”: o diretor e os atores Catherine Deneuve e Daniel Auteuil. Tira se envolve com a namorada do irmão, um gângster que acabou de ser assassinado, e também com a amante dela, uma bela e madura professora. O filme provocou escândalo pelas cenas lésbicas de Deneuve.

09
ALICE e MARTIN 
(Alice et Martin, 1998)

elenco: Juliette Binoche, Alexis Loret, Mathieu Amalric
e Carmen Maura

 Um rapaz mata o pai. Para fugir ao escândalo, a família instaura a lei do silêncio. O crime é transformado em acidente. Ele se muda para Paris e conhece uma violinista. Com a ajuda dela evita as recordações do ato que cometeu. Vão viver juntos e são felizes, até o momento em que ela engravida e ele entra numa depressão profunda e começa a ser perseguido pelo passado. Poderá ela evitar que ele enlouqueça? 

10
As TESTEMUNHAS 
(Les Témoins, 2007) 

elenco: Michel Blanc, Emmanuelle Béart e Sami Bouajila

Jovem interiorano chega a Paris para reencontrar a irmã, estudante de canto lírico, e descobre os prazeres do sexo sem compromisso nos pontos gays. Conhece um médico de meia-idade, que se deixa seduzir pelos encantos do rapaz. Mas será com um policial que terá uma relação inesperada. Ele é casado com uma escritora de livros infantis que acabou de ter um bebê, e os dois têm vida sexual liberal. Contudo, quando o garoto descobre que tem o vírus da Aids, a vida de todos é abalada.

28 comentários:

  1. Bem vindo, caro Nahud, já estava a estranhar a tua ausência. Apenas uma pequena lembrança sobre as irmãs Brönte: a Charlotte foi na altura realmente a única delas que teve reconhecimento literário. Mas hoje, a 100 anos de distância (ah o tempo, esse grande juiz supremo) a Emily Brönte é a mais célebre de todas. E isso apesar de ter escrito apenas um único livro, além de algumas poesias. Mas que livro! Nada mais nada menos do que "Wuthering Heights", ou, como foi chamado aí no Brasil, "O Monte dos Ventos Uivantes" ("Monte dos Vendavais" aqui em Portugal).

    Um abraço
    O Rato Cinéfilo

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  2. Sou fã de "Rosas Selvagens".

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  3. O cinema francês ainda é um território novo para mim. Assisti a algumas produções e dessas que assisti não tenho que me queixar de nenhuma. Para mim esse diretor constitui uma novidade em meu currículo de cinéfila assim como seus filmes. Obrigada Antonio, por nos trazer essas informações preciosíssimas, que nos farão de alguma forma ver os filmes com outros olhos. Abraço.

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  4. Capucine Picicaroli9 de julho de 2012 às 12:31

    Muito bom, eu amo Rosas Selvagens e não assisti Não dou Beijos, mas vai para a lista! hehehe adorei o texto! beijoxxx

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  5. Um dos meus realizadores preferidos; nunca me decepcionou, mas para mim o melhor filme dele é "Juncos Selvagens".

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  6. Ana Cláudia Bezerra Barros9 de julho de 2012 às 17:21

    PARABÉNS, AMIGO.

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  7. Muito interessante como os críticos da Cahiers du Cinéma passaram a fazer filmes e tiveram sucesso. Fiquei especialmente interessada em "As irmãs Bronte", não apenas pela temática, mas também pela presença da ótima Isabele Adjani.
    Abraços!

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  8. Sem problemas, Nahud! E mais uma vez seu blog me apresentando a grandes cineastas que eu não conhecia, hein? Obrigado.

    http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/

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  9. Não conhecia muito do trabalho desse profissional. Mas, seu site sempre me traz conhecimento. E não falo da boca para fora não.

    Sou fã mesmo.

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  10. Caro Antonio

    Vc acertou em cheio com este post.
    Adoro o André Téchiné.Rosas selvagens me marcou muito.É um filme lindo, que fala muito sobre a juventude e suas descobertas.
    Tive uma versão dele em VHS e nunca encontrei uma versão em DVD.
    Foi lançado?
    As Testemunhas tb é maravilhoso, com um tema tão espinhoso que é a AIDS.Todos estão bem nesse filme.
    Outro diretor frances que gosto muito tb é o Francois Ozon(mas o Téchiné é meu predileto).O que vc acha dele?

    Abs
    Marco Antonio

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  11. Fiquei extremamente interessado em conhecer as obras desse diretor. Há algum tempo estou com o filme "As Rosas Selvagens" aqui, logo vou vê-lo e também baixar outros títulos desse diretor.

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  12. Assisti “Rendez-Vous” já há algum tempo e gostei bastante dele... ele continua sendo o único que conheço da filmografia do André Téchiné. Concordo com sua conceituação e defesa do melodrama! Abraço forte!

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  13. Estava pensando em melodrama agora justamente quando começara a escrever sobre Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse de Vincente Minnelli. Tenho preconceito com o gênero, admito, e sei a enorme influência dele no cinema francês pós-nouvelle vague.

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  14. Increíble pero no he visto nada de Techine y me has emocionado con lo que he leído porque es alguien que me ha atraído mucho, es un estupendo post. Ya he apuntado varios títulos que pienso descubrir, hay actrices interesantes como Deneuve, Adjani, Binoche y Huppert que han trabajado con Techine y me interesan bastante. Suerte y éxitos con tus dos libros publicados. Un abrazo.

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  15. Ola Antonio,que bom que vc voltou a postar no blog,já estava sentindo sua falta! sobre o André Téchiné eu nunca vi nenhum de seus filmes,e achei muito interessante essa lista de filmes que vc escreveu,vou procurar conhecer-los. E reforçando o que o Rato comentou sobre as Bronte,atualmente a Emily se tornou a mais famosa Bronte,tb com aquele belissimo romance "Wuthering Heights". Antonio vc já viu a versão cinematográfica mais recente de Wuthering Heights? achei interessante pois mostrou um Heathcliff negro. Abç

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  16. Voce aqui comenta sobre uma atriz que sempre amei: Marie-France Pisier... saudades dela...

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  17. Não assisti a nenhum desses desse grande diretor e olha que vejo muito do cinema francês.

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  18. não conheço muito da obra :(

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  19. Sou leitora assídua do seu blog - O Falcão Maltês. Assim como você, sou apaixonada por Cinema, principalmente pelo ator James Stewart. Sou formada em Letras pela UFPE e vez ou outra escrevo algo sobre a Sétima Arte. Ficarei muito feliz em trocar algumas ideias com você e desde já te parabenizo pelas suas postagens! Abraço!

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  20. Não consigo parar de ler seu blog! Meu Deus, o que é isso???

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  21. Antonio, quanto tempo!
    Confesso que conheço muito pouco sobre o cinema francês, suas grandes produções e seus grande diretores. Em todo caso, já anotei mais um nome na minha lista e claro, todos os filmes citados!

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  22. Ótimo blog. Só preciso de mais tempo para poder ler as postagens.

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  23. Putz, nunca vi nada de Téchiné. Uma vergonha admitir isso, mas é a pura verdade. Grande post, Nahud! Estava fazendo falta!

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  24. Eu Amo a 7. Arte!!!
    Vem Comigo?

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  25. Antonio tb as minhas versões preferidas são a de 39 e de 92(com aquela belissima trilha sonora),da nova versão de 2011 gostei da fotografia e ambientação do filme,e tb me chamou a atenção as 2 atrizes que fizeram a Cathy,só não gostei do ator que fez o Heathcliff adulto,depois eu dou uma passada no teu facebook e deixo o link para vc fazer o download. Abç

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  26. Mais um excelente texto Antonio! Os meus preferidos de Téchiné são Rosas selvagens e Minha estação preferida.

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  27. Valeu amigo, muito bom, forte abraço!

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