janeiro 29, 2017

************************** JORGE AMADO no CINEMA



Ilustrações:
CARYBÉ
(1911 - 1997)

O cheiro de cravo,
a cor de canela,
eu vim de longe
vim ver Gabriela.

(moda da zona do cacau)


Um dos escritores mais importantes da literatura brasileira e um dos mais traduzidos para outros idiomas, pai de Gabriela e de Tieta do Agreste, JORGE AMADO (1912 - 2001) nasceu na fazenda Auricídia, em Itabuna, sul da Bahia. Quando tinha apenas um ano, sua família se mudou para Ilhéus devido à uma epidemia de varíola. Foi lá que o menino passou a infância e de onde tirou inspiração para vários de seus futuros romances. Publicou 45 livros. Imortalizado por clássicos como “Terras do Sem-Fim” (1943) e “Gabriela, Cravo e Canela” (1958). Suas histórias são sobre o povo baiano, sua fé e sensualidade; a força das matas, os sabores da culinária nordestina, coronéis e jagunços, malandros e prostitutas, trabalhadores rurais e pescadores. Um acervo literário glorioso em 49 idiomas que mostra uma Bahia culturalmente rica, lúdica e sensual.

zélia gattai e jorge amado
Figura frequente no cinema e na televisão. Conversei com ele algumas vezes, entrevistei-o para a tevê e jornal, fiz crônicas sobre sua literatura libidinosa e terna. JORGE AMADO era generoso e afetuoso por natureza, respondendo a todas as cartas que recebia de leitores, muitos deles jovens escritores pedindo conselhos literários. Fã de Chaplin e amigo de Federico Fellini, ao lado de Nelson Rodrigues é o escritor nacional com maior número de adaptações para o cinema, com uma leve vantagem de Nelson em número de obras e qualidade do produto final visto nas telas. Ele não teve a sorte do alagoano Graciliano Ramos, que conta com algumas de suas obras adaptadas entre os melhores filmes do nosso cinema – de “Vidas Secas” (1962), de Leon Hirszman, a “São Bernardo” (1971) e “Memórias do Cárcere” (1984), de Nelson Pereira dos Santos.

jorge amado e sophia loren
A obra do autor de “Tocaia Grande: A Face Obscura” (1984) serviu como matéria-prima para 15 longas-metragens, e de todos eles, talvez o melhor seja o divertido e erótico “Dona Flor e seus Dois Maridos” (1976).  As demais adaptações são ruins ou irregulares. Procurado com frequência por produtores e lido mundialmente, JORGE AMADO foi até jurado do Festival de Cannes. Sua prosa vem sendo levada para a telona desde 1948, quando Anselmo Duarte e Maria Fernanda estrelaram “Terra Violenta”. André Setaro, crítico de cinema, explica que o interesse pela sua obra se deve ao sucesso editorial, ao fato dele ser um pioneiro em transpor a linguagem oral e coloquial do povo nas páginas dos seus romances, e também pelo cômico e sensual presente nas narrativas.

jorge amado e glauber rocha
Em 1977, o polêmico Glauber Rocha dirigiu “Jorge Amado no Cinema”, documentário de 36 minutos. Pouco conhecido, fala sobre a obra do escritor baiano, sua carreira literária e as adaptações cinematográficas de seus romances, especialmente “Tenda dos Milagres” e “Dona Flor e Seus Dois Maridos”. Entrevista com JORGE AMADO em sua casa no Rio de Janeiro. Na intimidade, ele apresenta sua família. Amigos e parentes opinam sobre filmes baseados em suas obras. Cineastas e atores falam sobre “Tenda dos Milagres. Nunca vi esse curta. Tenho vontade.

Depois dos recentes “Quincas Berro D’Água”, “Capitães da Areia” e “O Duelo”, o triângulo vivido na década de 1970 por Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça volta ainda este ano numa refilmagem de “Dona Flor e seus Dois Maridos”.

FILMES INSPIRADOS em JORGE AMADO

TERRA VIOLENTA
(1948)

direção de Edmond Bernoudy e Paulo Machado
Adaptação de TERRAS do SEM FIM
Com Anselmo Duarte, Maria Fernanda, Grande Otelo, Sady Cabral, Ziembinski, Ruth de Souza e Mário Lago

Esquecido, iniciou o namoro do cinema com Jorge Amado. Produzido pela Atlântida Cinematográfica, resultou em fiasco lamentável. Tudo por causa de norte-americano (Bernoudy) que chegou ao Brasil com a fama de ter sido assistente de gênios em Hollywood, mas na verdade nada entendia de cinema. Faz parte da filmografia de um dos maiores galãs da história do cinema brasileiro, Anselmo Duarte. No elenco excelente, no auge de sua beleza, Maria Fernanda, filha da poeta Cecília Meireles.

VENDAVAL MARAVILHOSO
(1949)

direção de Leitão de Barros
Adaptação do livro ABC de CASTRO ALVES
Com Paulo Maurício, Amália Rodrigues e Barreto Poeira

História do poeta Castro Alves, desde o nascimento em 1847 a passagem pelo curso de Direito, e a acesa defesa poética pelos direitos dos escravos. Aos dezoito anos conhece a atriz Eugenia Câmara e se apaixona. O filme reflete as dificuldades da produção, as mutilações do argumento cinematográfico (o roteiro inicial foi proibido pela censura portuguesa), o desencontro entre ambição e resultado. Depois deste filme, o cineasta português Leitão de Barros não regressaria nunca mais ao cinema de ficção.

SEARA VERMELHA
(1963)

direção de Alberto D’Avessa
Adaptação do romance homônimo
Com Margarida Cardoso, Marilda Alves, Sady Cabral, Mauro Mendonça, Nelson Xavier e Jurema Penna

A realidade socioeconômica dos flagelados da seca que emigram para o sul do país. O diretor italiano D’Aversa transmite o clima de sofrimento e miséria sem resvalar para o pieguismo. Excelentes desempenhos do elenco.

CAPITÃES da AREIA
(The Sandpit Generals, 1971)

direção de Hall Bartlett
Adaptação do romance homônimo
Com Kent Lane, Tisha Sterling, Eliana Pittman, John Rubinstein e Marisa Urban

Numa participação especial, Dorival Caymmi. A vida dos menores abandonados “Capitães da Areia”, como eram conhecidos os meninos de rua na cidade de Salvador, nos anos de 1930. Por ser obra estrangeira e sem nenhum sucesso, geralmente não é lembrada quando se fala no livro. Premiada no Festival de Moscou, chegou ao Brasil nas madrugadas televisivas, rebatizada de “Dora”. O sexto romance de Jorge Amado resultou, também, em minissérie de tevê, dirigida por Walter Lima Jr, e em várias montagens teatrais. 

DONA FLOR e seus DOIS MARIDOS
(1976)

direção de Bruno Barreto
Adaptação do romance homônimo
Com Sônia Braga, José Wilker, Mauro Mendonça, Nelson Xavier, Nelson Dantas e Rui Rezende

O segundo maior sucesso da história do cinema brasileiro. Mais de 10 milhões de telespectadores. Atrás apenas de “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro” (2010), de José Padilha. A graciosa e sensual Sônia Braga, no auge da forma, interpreta com carisma a professora de culinária Dona Flor. José Wilker, hilário, como o fogoso ex-marido que volta dos mortos para apimentar sua vida, e Mauro Mendonça no papel do Dr. Teodoro, o farmacêutico que se casa com a viúva.

Bruno Barreto assumiu a direção, aos 21 anos, depois que Glauber Rocha, primeiro cineasta atrelado ao projeto, não pôde dirigi-lo. Para surpresa geral, realizou uma comédia atraente, leve e divertida que encantou o Brasil e o estrangeiro. Concorreu ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. As apimentadas cenas de sexo e nudez foram muito faladas na época do lançamento.

Os PASTORES da NOITE (OTÁLIA DA BAHIA)
(1975)

direção de Marcel Camus
Adaptação do romance homônimo
Com Grande Otelo, Antonio Pitanga, Zeni Pereira, Jofre Soares e Mira Fonseca

O francês Camus ganhou a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com “Orfeu Negro” (1959), baseado no musical de Vinicius de Moraes. Depois de praticamente apresentar o Brasil para o mundo com essa fábula, voltou a mirar suas câmeras para o país através do universo de Jorge Amado. Fascinado pelo sincretismo e o candomblé, o cineasta partiu do segundo dos três episódios de “Os Pastores da Noite”, “O Compadre de Ogum”, para escrever o roteiro do filme, também conhecido como “Otália de Bahia”.

Superficial e confuso, conta como a chegada de Otália à Bahia transforma a vida de vários homens. A trilha sonora composta por Antonio Carlos e Jocafi talvez tenha sido até mais famosa do que o próprio longa-metragem. Em 2002, a Globo apresentou nova versão de “Os Pastores da Noite”, em quatro episódios.

TENDA dos MILAGRES
(1976)

direção de Nelson Pereira dos Santos
Adaptação do romance homônimo
Com Jards Macalé, Anecy Rocha, Hugo Carvana, Nildo Parente e Jofre Soares

Melhor Filme e Melhor Diretor no Festival de Brasília. Nelson Pereira dos Santos colocou muito de sua visão pessoal. Na história, um intelectual norte-americano em passagem por Salvador resgata a figura de Pedro Arcanjo, que no início do século contestou o racismo, defendeu a miscigenação e documentou a cultura africana. Sexualidade, misticismo e até antropologia estão no caldeirão, que o cineasta encheu com doses generosas de loucura carnavalesca. Desigual, boa trilha sonora de Gilberto Gil e participações especiais de Mãe Menininha do Gantois, Carybé, Mestre Pastinha e Juarez Paraíso.

MEU ADORÁVEL FANTASMA
(Kiss me Goodbye, 1982)

direção de Robert Mulligan
Adaptação de DONA FLOR e seus DOIS MARIDOS
Com Sally Field, James Caan, Jeff Bridges, Paul Dooley, Claire Trevor e Mildred Natwick

O filme “Dona Flor e Seus Dois Maridos” fez tanto sucesso que foi refilmado nos EUA como comédia romântica com roteiro de Bruno Barreto. Após três anos da morte do marido, uma viúva conhece outro homem, um egiptólogo do Museu Metropolitano de Arte de Nova York, e se apaixona. Mas, um dia antes de seu casamento, o fantasma do primeiro marido vem fazer uma surpresa. Apesar de boas intenções e ótimo elenco, não deu lucro.

GABRIELA
(1983)

direção de Bruno Barreto
Adaptação do romance GABRIELA, CRAVO e CANELA
Com Sônia Braga, Marcello Mastroianni, Paulo Goulart, Nelson Xavier, Jofre Soares, Nicole Puzzi e Miriam Pires

Produção internacional que se tornou uma grande decepção. Segundo filme de Bruno Barreto baseado na obra do escritor, traz também Sonia Braga outra vez, agora reprisando o papel que fez na televisão na telenovela de 1975 – com “Tieta do Agreste”, ela reafirmaria seu posto como musa da obra de Jorge Amado. Parte do encanto da história está na relação apimentada entre a protagonista e seu marido, o turco Nacib, vivido aqui pelo lendário Marcelo Mastroianni, devidamente dublado em português. Mas a direção é confusa e as atuações caricatas. A primeira versão da Globo, dirigida por Walter Avancini, é superior. O mesmo não pode ser dito sobre a versão televisiva mais recente, com Juliana Paes.

JUBIABÁ
(1987)

direção de Nelson Pereira dos Santos
Adaptação do romance homônimo
Com Charles Baiano, Françoise Goussard, Raymond Pellegrin, Zezé Motta, Betty Faria, Ruth de Souza, Jofre Soares e Grande Otelo

Frígido, antiquado. Os franceses do elenco estão deslocados e anêmicos, principalmente a protagonista Françoise Goussard. Não transmite autenticidade na luta do negro Baldo que se apaixona pela loura filha de um comendador, vira malandro de beira de cais e boxeador imbatível.

TIETA do AGRESTE
(1996)

direção de Cacá Diegues
Adaptação do romance homônimo
Com Sônia Braga, Marília Pera, Cláudia Abreu, Chico Anysio, Patrícia França, Zezé Motta e Jece Valadão

Estive nas filmagens, no povoado de Picado, no município de Conceição do Jacuípe, entrevistando Sônia Braga. Jorge Amado aparece em rápida participação na primeira cena, lendo as palavras iniciais do livro. Amigos de muitos anos, Sônia convidou Cacá para dirigi-la. Faz uma prostituta bem sucedida que retorna a terra natal, a pequena Santana do Agreste, após 25 anos de ausência. Sua volta causa apreensão, uma vez que saiu escorraçada pelo pai, movido pelas intrigas da irmã mais velha. A chegada de Tieta, rica e poderosa, aguça a ambição não só dos familiares, mas de toda cidade.

Inevitavelmente comparado à telenovela de sucesso, protagonizada por Betty Faria e Joana Fomm, não conquistou o público. Na década de 80, a diretora italiana Lina Wertmüller foi quem primeiro adquiriu os direitos para o cinema de “Tieta do Agreste”, logo após a sua publicação na Itália. Amiga de Jorge Amado, Lina convidou Sophia Loren para estrelar o filme, contratando Cláudia Ohana para o papel da protagonista jovem. Algumas cenas foram gravadas na Bahia, mas o projeto terminou misteriosamente abandonado. Uma pena, às vezes penso que seria o melhor filme adaptado do escritor. Curiosamente, Cláudia retomaria a personagem - Tieta jovem - alguns anos mais tarde, na telenovela global.

QUINCAS BERRO D’ÁGUA
(2010)

direção de Sérgio Machado
Adaptação do livro A MORTE e a MORTE de QUINCAS BERRO D´ÀGUA
Com Paulo José, Marieta Severo, Mariana Ximenes, Vladimir Brichta, Frank Menezes e Irandhir Santos

Uma das obras mais celebradas de Jorge Amado. Repleta de realismo mágico, é acerto de contas afetuosíssimo, já que o escritor apadrinhou Sérgio Machado em sua entrada no mundo do cinema. Conta a saga impagável de um boêmio que não abandona a farra nem depois de morto, revelando com humor o choque entre classes diferentes que de repente são obrigadas a conviverem em um velório. Comédia das boas, traz o extraordinário Paulo José como o morto Quincas, outrora membro da alta sociedade da Salvador, que troca tudo pela boemia. Como despedida, é tirado do leito de morte pelos fiéis companheiros de bebedeira e levado nos braços para uma última farra.

O diretor criou novas situações e personagens, como a cafetina Manuela (interpretada por Marieta Severo), e investiu mais nas ruas de Salvador, contrariando o livro que se concentra no local onde ocorre o velório de Quincas. Uma obra simpática, beirando a chanchada.

CAPITÃES da AREIA
(2011)

direção de Cecília Amado
Adaptação do romance homônimo
Com Jean Luís Souza de Amorim, Ana Graciela Conceição da Silva, Romário Santos de Assis e Israel Vinícius Gouvêa de Souza

Inferior ao livro, sendo, apenas, pálido reflexo deste. Mas retrata com autenticidade a vida de meninos de rua de Salvador. Dirigido pela neta de Jorge Amado, Cecília, que leu a obra pela primeira vez aos 14 anos, levou milhares de brasileiros aos cinemas. Atenção para a liberdade e inquietação de Pedro Bala, o herói da história. O livro foi publicado em mais de cem edições.

O DUELO
(2015)

direção de Marcos Jorge
Adaptação do romance Os VELHOS MARINHEIROS
Com Joaquim de Almeida, Cláudia Raia, José Wilker, Patrícia Pillar, Marcio Garcia e Milton Gonçalves

O romance se passa no início do século XX, mas o filme se adianta em algumas décadas. Com cenários grandiosos e numerosos efeitos especiais, apresenta o comandante Vasco Moscoso de Aragão e sua agitada chegada em uma cidadezinha balneária, a vila de Periperi, situada nas proximidades de um grande município portuário. Maduro, este pitoresco forasteiro vem para ficar, buscando repouso depois de uma longa vida de aventuras por todos os mares do globo. Ele conquista a todos com as histórias de suas façanhas nos quatro cantos do mundo. O filme discute o tema da construção da verdade e do mito, avançando e recuando no tempo.

DONA FLOR e seus DOIS MARIDOS
(2017)

direção de Pedro Vasconcelos
Adaptação do romance homônimo
Com Juliana Paes, Marcelo Faria, Leandro Hassum, Nívea Maria, Fabio Lago, Cassiano Carneiro e Duda Ribeiro.

O clássico de Jorge Amado mais uma vez nos cinemas, e ainda sem data de estreia. Juliana interpreta mais um personagem do escritor baiano, a primeira foi Gabriela. Marcelo Faria vive Vadinho, que o ator interpretou durante anos no teatro. As filmagens duraram cinco semanas e tiveram locações em Salvador e no Rio de Janeiro.



janeiro 15, 2017

************* A DISCRETA e SENSÍVEL ANNE BAXTER



Nasceu em 5 de maio de 1923, em Michigan City, Indiana, EUA. Faleceu em 12 de dezembro de 1985, em Nova Iorque.

Quanto mais a vejo, mais gosto desta atriz bonita, sexy e talentosa. Nascida numa família de classe alta, neta do renomado arquiteto Frank Lloyd Wright, seus pais sempre apoiaram seus sonhos de ribalta. Aos 13 anos ANNE BAXTER estreou numa peça na Broadway. Elogiada pelos críticos, investiu no estudo de arte dramática em Nova Iorque com a famosa professora e atriz russa Madame Maria Ouspenskaya (1876-1949). Seu temperamento forte muitas vezes resultou em confrontos entre elas. Aos 15 anos, submetida a um teste por David O. Selznick, quase foi escolhida para protagonizar o clássico “Rebecca, a Mulher Inesquecível / Rebecca” (1940), mas como se sabe quem levou o papel foi Joan Fontaine. Saltou do teatro para o cinema em 1940, aos 17 anos, participando em 50 produções, além de filmes e séries para a TV.

anne e o oscar
Contratada da 20th Century Fox por 12 anos, trabalhou com diretores de primeira qualidade como Orson Welles, John M. Stahl, Billy Wilder, Fritz Lang, Alfred Hitchcock, Joseph L. Mankiewicz, Otto Preminger, Edmund Goulding, Lewis Milestone e Anthony Mann. No entanto, antes de fazer um filme na Fox, foi emprestada a Metro-Goldwyn-Mayer para o western “Punhos de Ferro / 20 Mule Team” (1940), estrelado pelo ótimo grandalhão Wallace Beery. Eu não vi este primeiro filme de ANNE BAXTER. De volta à Fox, naquele mesmo ano, ela interpretou Mary Maxwell em “O Eterno Don Juan / The Great Profile” (1940), que foi um fracasso de bilheteria, mas é estrelado pelo grande John Barrymore. A comédia é apenas uma paródia da vida do próprio astro que, como sabemos, envolveu muita bebida, raiz de seu comportamento tempestuoso no set e em seus relacionamentos pessoais.

No ano seguinte, ela apareceu em “O Segredo do Pântano” (1941), uma das figuras centrais de um elenco precioso: Walter Brennan, Walter Huston, Dana Andrews. Foi o primeiro papel que realmente valeu alguma coisa, mas os críticos não ficaram impressionados com ela nem com o filme simpático dirigido pelo mestre francês Jean Renoir. Linda Darnell, originalmente escalada para interpretar a filha de um fugitivo que se refugiou nos pântanos, acabou substituída por ANNE BAXTER. Ela nunca escondeu sua decepção e se tornaram inimigas.

john hodiak e anne
Em seguida, a vez da fabulosa produção dirigida e escrita por Orson Welles, “Soberba”. Obra-prima inquestionável. A atriz fez Lucy Morgan, a filha de Joseph Cotten. Indicada a quatro prêmios da Academia, incluindo Melhor Filme - e com razão. Em 1943, ela apareceu no sucesso de crítica e público “Estrela do Norte / The North Star” (1943). Ao rodar “Um Sonho de Domingo / Sunday Dinner for a Soldier” (1944) conheceu seu primeiro marido, John Hodiak. Casaram-se em 1947. Atuou na comédia sofisticada “Czarina”, co-estrelada pela diva da Broadway Tallulah Bankhead, Charles Coburn e Vincent Price. Produzido por Ernst Lubitsch e dirigido por Otto Preminger, baseou-se vagamente na vida de Catarina, o Grande.

Seis anos depois da estreia cinematográfica veio a consagração, fazendo a alcóolatra Sophie MacDonald em “O Fio da Navalha”, adaptado do emocionante romance de W. Somerset Maugham, que lhe valeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e o Globo de Ouro. Grande sucesso produzido com maestria por Darryl F. Zanuck, tem uma das melhores atuações de Tyrone Power. ANNE BAXTER está impressionante, iluminada. Em 1947, ela estrelou “Quatro Irmãos a Queriam / Blaze of Noon”, com William Holden. Emprestada outra vez a M-G-M fez o drama de guerra O Amor que me Deste / Homecoming” (1948) com Clark Gable, Lana Turner e o maridão John Hodiak. Em seguida, outro bom filme, “As Muralhas de Jericó / The Walls of Jericho” (1948) com Cornel Wilde, Linda Darnell e Kirk Douglas.

Em 1950 estrelaria o seu filme mais conhecido, “A Malvada”, ao lado de Bette Davis, Celeste Holm, George Sanders, Gary Merrill e Thelma Ritter. Claro que não podemos esquecer a recém-chegada Marilyn Monroe em seu pequeno papel. O brilhante desempenho de ANNE BAXTER como a ardilosa Eve Harrington conquistou o público. Foi inicialmente convidada para o papel por causa de sua semelhança com Claudette Colbert, que faria Margo. Em busca do Oscar para as suas duas estrelas, a Fox tentou Anne para a categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Ela se recusou a ser vendida como coadjuvante. Ambas as atrizes foram nomeadas ao Oscar de Melhor Atriz e ambas perderam (injustamente) para a Judy Holliday de Nascida Ontem / Born Yesterday” (1950).


Como tantas outras, ela começou a receber menos ofertas de filmes. Em 1953 rodou “A Tortura da Suspeita”, co-estrelado por Montgomery Clift. Fez bem na bilheteria, mas não é memorável, embora seja dirigido por Alfred Hitchcock. Também estrelaria o criminal noir “Gardênia Azul”, com o mestre Fritz Lang no comando. Em 1956 foi contratada para fazer Sephora no superprodução de Cecil B. DeMille, “Os Dez Mandamentos”, ao lado de Charlton Heston e Yul Brynner. Audrey Hepburn havia sido escalada para Nefertiri, mas o diretor rejeitou sua figura delgada. ANNE BAXTER assumiu o papel, arrebatando o personagem que todas as atrizes disputavam. Nefretiri foi considerado pela colunista Louella Parsons como “o papel mais procurado do ano”. A atriz está deslumbrante como a rainha egípcia. Nunca esteve tão bela em toda sua carreira. Este épico religioso é um dos maiores sucessos de bilheteria da história do cinema. Obteve sete indicações ao Oscar e uma vitória para efeitos especiais.

A atriz ficou sete anos casada com John Hodiak, com quem teve uma filha e de quem se divorciou em 1953. Ele morreu apenas um ano após o divórcio, de um ataque cardíaco, em sua casa em Tarzana, Califórnia. Durante os anos 1960, na Austrália, iria encontrar seu segundo marido, Randolph Galt, um norte-americano morando em Sydney, onde era dono de um grande rebanho de gado. Ela roubou seu coração e se apaixonou por uma bela paisagem. Viveu com ele em uma fazenda, onde escreveu um livro sobre a experiência vivida, “Intermission: A True Story”, bem recebido pela crítica. Casou-se uma terceira vez em 1977, com o banqueiro David Klee, que a deixou viúva um ano depois do casamento.

No final dos anos 50, insatisfeita com os papéis oferecidos, ela se voltou para as aparições na televisão em séries como “Playhouse 90”, “Wagon Train”, “Riverboat” e “Dr. Kildare”. Nos anos 1960, fez duas vilãs, Zélia, a Grande, e Olga, Rainha dos Cossacos, em episódios de “Batman”. Começou a engordar com facilidade e a enfrentar enormes dificuldades para manter o peso, mas era definida pelos diretores que trabalharam com ela como uma excelente atriz, discreta e sensível. Assim que finalizou “Pelos Bairros do Vício / Walk on the Wild Side” (1962), ficou um bom tempo sem filmar, continuando a aparecer frequentemente nos palcos e na televisão. Depois de ter se divorciado de Galt, ANNE BAXTER interpretou Margo Channing em “Aplausos”, a versão musical de “A Malvada” na Broadway. Substituiu Lauren Bacall, que já havia vencido um Tony por seu papel. Seu último papel foi a Irene Adler no drama de TV “The Mask of Death” (1984).

Boa amiga da atriz Maureen O`Hara e da lendária figurinista da Paramount, Edith Head, madrinha de uma das suas filhas, ela era uma republicana firme que deu muito do seu tempo e dinheiro para causas políticas conservadoras. Participou de convenções nacionais republicanas, galas e arrecadação de fundos, e atuou nas campanhas de Dwight D. Eisenhower, Richard Nixon e Ronald Reagan. Mantinha sua residência principal em Easton, Connecticut, em uma propriedade desde a década de 1970 até sua morte, aos 62 anos, vítima de aneurisma cerebral. Sofreu um desmaio em plena Madison Avenue, em Nova Iorque, quando se dirigia ao cabeleireiro, e foi levada para o hospital mais próximo, mas não resistiu. Ela se mantinha ocupada recebendo suas filhas e em aparições ocasionais em programas de televisão como “O Barco do Amor”, “Hotel” e “Mannix”. Sua vitoriosa carreira durou mais de cinco décadas.

13 GRANDES FILMES de ANNE BAXTER
(por ordem de preferência)

01
A MALVADA
(All About Eve, 1950)

direção de Joseph L. Mankiewicz
com Bette Davis, George Sanders, Celeste Holm, 
Thelma Ritter e Marilyn Monroe

02
O FIO da NAVALHA
(The Razor's Edge, 1946)

direção de Edmund Goulding
com Tyrone Power, Gene Tierney, John Payne, 
Clifton Webb e Herbert Marshall

03
CÉU AMARELO
(Yellow Sky, 1948)

direção de William A. Wellman
com Gregory Peck e Richard Widmark

04
A TORTURAdo SILÊNCIO
(I Confess, 1953)

direção de Alfred Hitchcock
com Montgomery Clift, Karl Malden e Brian Aherne

05
GARDÊNIA AZUL
(The Blue Gardenia, 1953)

direção de Fritz Lang
com Richard Conte, Ann Sothern e Nat King Cole

06
O SEGREDO do PÂNTANO
(Swamp Water, 1941)

direção de Jean Renoir
com Walter Brennan, Walter Huston e Dana Andrews

07
Os DEZ MANDAMENTOS
(The Ten Commandments, 1956)

direção de Cecil B. DeMille
com Charlton Heston, Yul Brynner, Edward G. Robinson, 
Yvonne De Carlo, Debra Paget, Nina Foch, 
Martha Scott, Judith Anderson e John Derek

08
SOBERBA
(The Magnificent Ambersons, 1942)

direção de Orson Welles
com Joseph Cotten, Dolores Costello. Tim Holt 
e Agnes Moorehead

09
CINCO COVAS no EGITO
(Five Graves to Cairo, 1943)

direção de Billy Wilder
com Franchot Tone, Akim Tamiroff e Erich von Stroheim

10
MERGULHO no INFERNO
(Crash Dive, 1943)

direção de Archie Mayo
com Tyrone Power e Dana Andrews

11
CZARINA
(A Royal Scandal, 1945)

direção de Otto Preminger
com Tallulah Bankhead, Charles Coburn, William Eythe 
e Vincent Price

12
CIMARRON – JORNADA da VIDA
(Cimarron, 1960)

direção de Anthony Mann
com Glenn Ford, Maria Schell e Mercedes McCambridge

13
O AMOR que me DESTE
(Homecoming, 1948)

direção de Mervyn LeRoy
com Clark Gable, Lana Turner, John Hodiak 
e Gladys Cooper

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