novembro 03, 2015

***** TYRONE POWER: um CAMPEÃO de BILHETERIA



No apogeu, anos 30-40, foi um dos principais astros de Hollywood. Olhar sedutor e carisma ajudaram a colocar a então iniciante 20th Century-Fox no mapa das poderosas produtoras cinematográficas. Nunca mais perderam o prestígio, nem a Fox, nem o ator ainda lembrado 57 anos após o seu falecimento. TYRONE POWER (1914 – 1958) agrada aos fãs mesmo nos filmes mais ingratos. Faz bem ao público o mix de personalidade suave, leveza atlética e beleza morena. Eu não me canso de assistir Sangue e Areia, A Marca do Zorro ou O Cisne Negro. Se era bom intérprete? Honestamente, não consigo vê-lo como o canastrão juramentado pelos críticos. Como Douglas Fairbanks e Errol Flynn, especialistas no gênero aventura, exibia habilidades físicas típicas desses filmes populares, mas quando testado em papéis dramáticos, saia-se muito bem. Assim como em comédias românticas, musicais e dramas de guerra.
                             
Ele impressiona no angustiado personagem de O Fio da Navalha, versão do romance clássico de Somerset Maugham, ao lado de Gene Tierney e Anne Baxter, e no suspense Testemunha de Acusação, do mestre Billy Wilder. Levou-me às lágrimas como o pianista Eddy Duchin em Melodia Mortal, morrendo de amores por Kim Novak. Talvez a sua atuação mais elogiada seja Stan Carlisle, vigarista de um parque de diversões em O Beco das Ilusões Perdidas, que ele insistiu em fazer contra a vontade de todos. Ótimo drama noir, fracasso de bilheteria, no mínimo merecia a nomeação ao Oscar de Melhor Ator.

tyrone power e madeleine carroll
em lloyd's de londres
Dono de um dos rostos mais formosos do cinema, TYRONE POWER tinha um corpo desproporcional, pernas finas e nenhuma bunda, ao contrário do físico harmonioso de Errol Flynn ou Rock Hudson. Mas foi o maior ídolo romântico da 20th Century-Fox. De tradicional família de artistas, seu pai, Tyrone Power II, firmou-se na Broadway como renomado shakespeareano, morrendo durante as filmagens de O Homem Miraculoso / The Miracle Man, de 1932. Ty (como era conhecido) deixou duas filhas – Romina e Taryn, da deslumbrante atriz Linda Christian -, e ambas tentaram carreira de atriz sem resultado positivo. Da última esposa, Debbie Minardos, nasceu postumamente Tyrone Power IV, que também tentou sem êxito brilhar nas telas.

Nasceu em Cincinatti, e logo seguiu a tradição familiar, debutando no teatro aos sete anos e aos dezoito no cinema, em Cadetes de Honra / Tom Brown of Culver (1932), de William Wyler. Nessa época, Darryl F. Zanuck montava um celeiro de talentos para a recém-formada 20th Century-Fox. A produtora tinha sob contrato Henry Fonda e Don Ameche, e por fim descobriu TYRONE POWER nos palcos. Zanuck não gostou do seu teste, mas por insistência da estrela Alice Faye ele foi escalado para um pequeno papel em Dormitório de Moças / Girl’s Dormitory (1936). Nas duas únicas cenas em que apareceu com Simone Simon, agradou tanto ao público feminino que milhares de cartas chegaram aos estúdios da Fox, todas perguntando quem era aquele jovem tão fascinante. O esperto chefão redigiu outro contrato em termos especiais: sete anos de exclusividade e aumentos progressivos de salário.

tyrone e sonja henie
Contrato assinado, Zanuck cismou com as sobrancelhas grossas demais do novato. O problema foi prontamente resolvido pelos maquiadores, embora o ator tenha relutado, desejando conservá-las naturalmente. Em relação à homossexualidade do futuro astro, sabendo-se na época do seu compromisso amoroso com o compositor Lorenz Hart, o departamento de publicidade da Fox inventou romances com as beldades Loretta Young, Sonja Henie e Janet Gaynor. Terminou casando-se com a atriz francesa Annabella, notoriamente lésbica. A união durou de 1939 a 1948, e mesmo separados continuaram bons amigos.

tyrone power e norma shearer 
em maria antonieta
Simpático, modesto, afável, encantador, todos o consideravam um bom sujeito. E foi Henry King quem o levou ao estrelato, insistindo com Darryl F. Zanuck para que TYRONE POWER fosse escolhido para um dos principais papéis de Lloyd’s de Londres / Lloyd’s of London (1936), um bem cuidado drama sobre a famosa companhia de seguros britânica. Depois do sucesso dessa produção requintada, passou a figurar entre as atrações de bilheteria de Hollywood. Emprestado a Metro-Goldwyn-Mayer, atuou no superespectáculo Maria Antonieta / Marie Antoinette (1938), escolhido para o papel do amante sueco da rainha francesa, Conde Axel de Fersen, pela estrela do filme, Norma Shearer.  Foi a primeira e única vez em que trabalhou fora da Fox em 16 anos de contrato milionário.

Rodou ainda em 1938, Suez / idem, épico de Allan Dwan, contracenando com a parceira habitual Loretta Young e a futura esposa Annabella. A fita conta a história romanceada do aventureiro que projetou o canal de Suez, e Annabella faz uma garota que se disfarça de rapazinho. A cena mais famosa é a de um tufão, um show de efeitos especiais. No ano seguinte, o sucesso se repetiu com o western Jesse James, narrativa da vida do famoso pistoleiro, com Henry Fonda interpretando seu irmão Frank e Henry King na direção. O hipnotizante Sangue e Areia foi o seu maior êxito de sempre. São magníficas as cenas de tourada e da sedução de Rita Hayworth, a majestosa Doña Sol. Ódio no Coração / Son of Fury, de 1942, dirigido por John Cromwell, é típica aventura dos mares do Sul. Ele interpreta um aristocrata que se refugia numa ilha para poder se vingar do tio que lhe roubou a fortuna. Um elenco espetacular é a maior atração do filme.

tyrone e annabella
Hipnotiza como o pirata Jamie Waring de O Cisne Negro, outra vez dirigido por Henry King, e certamente um clássico do cinema de aventura. Belíssima fotografia de Leon Shamroy (premiada com o Oscar), escapismo, charmosa diversão. Por três vezes, TYRONE POWER figurou entre os dez campeões de bilheteria dos EUA, no levantamento promovido anualmente pelo Motion Picture Herald entre os exibidores: em 1938, 1939 e 1940. No auge da popularidade e em companhia de Annabella, esteve no Brasil a passeio, em dezembro de 1938, sendo recebido em audiência especial pelo ditador-presidente Getúlio Vargas. Voltou a nos visitar em 1951, desta vez ao lado do fiel escudeiro César Romero, com quem percorreu as Américas num pequeno avião.

tyrone e cesar romero no brasil
E se alguém falar que a boa e velha fofoca não movimenta Hollywood está mentindo. Discutir a sexualidade de galãs é coisa bem antiga, e diversas publicações e depoimentos comprovam a bissexualidade de TYRONE POWER. O mais conhecido dos amigos de ator foi César Romero, homossexual assumido nos bastidores. Eram ainda amigos constantes o diretor George Cukor e os atores Clifton Webb e Van Johnson, reconhecidos gays da meca do cinema. Dizem que ele e Cesar Romero namoravam. Sabe-se que gostavam de voar por diversão no avião particular de Ty, adquirido do milionário Howard Hughes. O falatório sobre um affair entre os atores correu solto de forma contundente a partir de 1958, após o velório de Tyrone. A viúva Debbie pediu para que o amigo fizesse o discurso fúnebre. Romero então leu um poema que escreveu dizendo que Tyrone era um homem bonito. Bonito por fora e por dentro. Foi o suficiente para eclodir comentários.

Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra, Ty se alistou no Corpo de Fuzileiros Navais, ficando dois anos fora das telas. Ao retornar, não tinha mais o entusiasmo que cativava plateias, algo íntimo havia se perdido no conflito bélico. Ainda assim, continuou na Fox, e estourando bilheterias em O Fio da Navalha, O Capitão de Castela / Captain from Castile (1947) e O Favorito dos Bórgias / Prince of Foxes (1949). Depois de badalados casos com Lana Turner (segundo ela, ele foi o maior amor de sua vida), Gene Tierney e Corinne Calvet, casou-se com pompa e circunstância com a atriz Linda Christian, em 1949, na Europa. Em 1954, ela pediu o divórcio, recebendo um milhão de dólares. Na biografia A Vida Secreta de Tyrone Power, de Hector Arce, publicada em 1979, afirma-se que o galã era incapaz de satisfazer os desejos emocionais e sexuais de Linda.

tyrone e linda christian
Na década de 1950, TYRONE POWER se dedicou também ao teatro, louvado por Santa Joana, de Bernard Shaw; Liliom e Mister Roberts. Finalizado o contrato com a Fox, aceitou o convite do lendário John Ford para protagonizar A Paixão de Uma Vida / The Long Grey Line (1955). Elogiado pela crítica e formidável sucesso comercial, o filme deu nova vida a sua carreira, arrastada por sucessivos fracassos. Em 1956 fez Melodia Imortal, outro êxito. Com duas histórias de amor e um memorável score musical, o drama é um daqueles filmes em que ele é melhor lembrado. Atuou em ... E Agora Brilha o Sol, versão do romance de Ernest Hemingway, fazendo um jornalista que perdeu a potência sexual por causa de ferimentos na guerra, portanto não podendo satisfazer sua amada, a fogosa Lady Brett Ashley de Ava Gardner.

O último filme de TYRONE POWER, interpretando um cínico criminoso, foi um dos pontos altos de sua carreira: o suspense Testemunha de Acusação, de Billy Wilder. Com essa atuação, conquistou os críticos. O filme concorreu ao Oscar de Melhor Filme, entre outras nomeações. Com excelente elenco, no qual todos se destacam - Marlene Dietrich, Charles Laughton, Elsa Lanchester e Una O’Connor. Possibilitou ao astro um dos seus melhores desempenhos em 25 anos de cinema, encerrando com êxito uma vitoriosa carreira de 50 filmes.


Morreria tragicamente em 1958, na Espanha, filmando uma difícil cena de duelo de espadas com George Sanders, em Salomão e a Rainha de Sabá / Salomon and Sheba, de King Vidor. Substituído por Yul Brynner, o diretor diria que sem TYRONE POWER o épico perdia sua razão de ser. Ele morreu de um fulminante ataque do coração, exatamente como seu pai. O cinema perdia um de seus ídolos mais queridos. Tinha apenas 44 anos, partindo no momento em que reconquistara a popularidade. Henry King, grande amigo e diretor preferido (fizeram juntos 11 filmes), que o ensinou a pilotar aviões e sabia do seu amor pela aviação, fez voos rasantes sobre a procissão do funeral até a hora do sepultamento, e disse que ele estava ao seu lado no avião.

Poucos dias antes de morrer, entrevistado em Madri, o ator falou sobre sua carreira, surpreendendo a todos ao garantir ter gostado de apenas três filmes que fez: Sangue e Areia, O Beco das Ilusões Perdidas e Testemunha de Acusação. Rigoroso demais, eu sou capaz de citar dez filmes de primeira qualidade em que protagonizou com paixão, fascinando multidões. Vamos lá.

tyrone e nancy kelly em jesse james
DEZ FILMES de TYRONE POWER
(por ordem de preferencia)

01
TESTEMUNHA de ACUSAÇAO
(Witness for the Prosecution, 1957)
de Billy Wilder
com Marlene Dietrich

02
SANGUE e AREIA
(Blood and Sand, 1941)
de Rouben Mamoulian
com Linda Darnell e Rita Hayworth

03
A MARCA de ZORRO
(The Mark of Zorro, 1940)
de Rouben Mamoulian
com Linda Darnell

04
O CISNE NEGRO
(The Black Swan, 1942)
de Henry King
com Maureen O’Hara

05
O FIO da NAVALHA
(The Razor’s Edge, 1946)
de Edmund Goulding
com Gene Tierney e Anne Baxter

06
O BECO das ILUSÕES PERDIDAS
(Nighmare Alley, 1947)
de Edmund Goulding
com Joan Blondell e Coleen Gray

07
MELODIA IMORTAL
(The Eddy Duchin Story, 1956)
de George Sidney
com Kim Novak

08
... E AGORA BRILHA o SOL
(The Sun Also Rises, 1957)
de Henry King
com Ava Gardner
      
09
JESSE JAMES
(Idem, 1939)
de Henry King
com Nancy Kelly

10
E as CHUVAS CHEGARAM
(The Rains Came, 1939)
de Clarence Brown
com Myrna Loy

gene tierney e tyrone power em ódio no coração
DEPOIMENTOS

Trabalhar com Ty foi emocionante. Naquele momento, ele era o maior espadachim romântico do mundo. Mortalmente bonito! Mas o que eu mais amava nele era o seu senso de humor.
MAUREEN O'HARA

Ty era quente e atencioso. Tinha também um rosto muito bonito.
GENE TIERNEY

Sem dúvida, o homem mais lindo que conheci.
ALICE FAYE

Ele tinha uma aura em torno dele que o distinguia de todos os outros. Eu tive uma paixão enorme por ele e sentia que seus pés nunca tocavam a terra
COLEEN GRAY