setembro 21, 2014

***** HURRELL e HARCOURT, ESCULTORES da LUZ

marion davies por hurrell


O glamour da Hollywood dos anos 1930 e 1940 tem no fotógrafo GEORGE HURRELL (1904 - 1992) sua mais perfeita tradução. Ele clicou as grandes estrelas da época. Estudando inicialmente pintura, terminou por descobri que a fotografia era uma fonte de renda mais confiável. No final dos anos 1920, abriu um estúdio em Los Angeles, atraindo Ramon Novarro como seu primeiro cliente famoso. Impressionado com o resultado, o ator convenceu Norma Shearer a utilizá-lo, já que atriz tentava se livrar da imagem de mocinha comum, em busca de um perfil mais sofisticado. As fotos da estrela encantaram seu marido, o poderoso produtor Irving G. Thalberg, que contratou Hurrell como chefe de fotografia da Metro-Goldwyn-Mayer. Em 1932, após algumas divergências com o setor publicitário, o fotógrafo montou o seu próprio estúdio na Sunset Boulevard, 8706.


Ao longo da década de 1930, ele fotografou estrelas em belíssimas imagens em preto-e-branco. Norma Shearer o considerava seu fotógrafo oficial, não permitindo que nenhum outro a fotografasse. Greta Garbo não suportava o seu trabalho. Fizeram uma sessão para a divulgação de “Romance / Idem” (1930) e a diva odiou as imagens, nunca mais o utilizando. No início dos anos 1940, GEORGE HURRELL associou-se a Warner Brothers, fotografando, entre outros, Bette Davis, Ann Sheridan, Errol Flynn, Olivia de Havilland, Alexis Smith, Humphrey Bogart e James Cagney. Mais tarde mudou-se para a Columbia Pictures, onde suas fotos foram usadas para lançar Rita Hayworth como star número um do estúdio.

hurrell fotografando ann sheridan

No pós-guerra, ele deixou Hollywood para realizar documentários no exército dos Estados Unidos. Quando voltou, em meados dos anos 1950, seu estilo tinha caído em desgraça. Os novos tempos exigiam imagens mais realistas. Desanimado, partiu para Nova York, trabalhando para revistas de moda e anúncios publicitários. No entanto, uma exposição de seu trabalho no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em 1965, levou-o novamente ao topo da glória. Nos anos seguintes fotografou celebridades como Raquel Welch, Cher, Farrah Fawcett e John Travolta. Mesmo se aposentando oficialmente em 1976, ainda veio a fotografar Sharon Stone e Brooke Shields. 

Em 1984, quando Joan Collins (renascida das cinzas com o sucesso do seriado “Dinastia”) foi convidada para posar nua para a “Playboy”, aos 51 anos de idade, ela insistiu que o único fotógrafo com quem trabalharia seria GEORGE HURRELL. Ele topou o projeto e suas imagens foram um grande sucesso. Entre os seus últimos trabalhos, fotografou Warren Beatty e Annette Bening para a divulgação de “Bugsy / Idem” (1991). Em 1992, quando os médicos comunicaram que teria poucos dias de vida, disse: “Bem, a festa acabou. Hora de ir para casa”. Depois de sua morte, suas fotografias valorizaram mais ainda, sendo disputadas por colecionadores.

ESTÚDIO HARCOURT
 
jean marais
"Na França, não é ator quem não foi fotografado pelo estúdio Harcourt". Palavras de Roland Barthes. O aparente exagero do sociólogo é justificado pelo status alcançado pelo Harcourt em quase 80 anos contínuos em atividade. Sob seus refletores, num casarão na Avenida Montaigne, próximo à Champs Elysées, o bulevar mais chique de Paris, posaram os grandes do cinema francês. Com status de obras de arte, os retratos em preto e branco, de estética inspirada na era de ouro do cinema, são reconhecíveis por qualquer olhar treinado: a aura glamourosa, a luz dramática, roupas, cabelo e maquiagem perfeitos.

FOTOS de GEORGE HURRELL
 
ann sheridan
johnny weissmuller
barbara stanwyck
douglas fairbanks jr.
hedy lamarr
robert taylor
marlene dietrich
gary cooper
bette davis
errol flynn
norma shearer
clark gable
dolores del rio
humphrey bogart

ava gardner

tyrone power

jean harlow

ramon novarro

ESTÚDIO HARCOURT


jean marais
brigitte bardot
louis jourdan
jeanne moreau


gérard philiphe
romy schneider
yves montand
michèle morgan
alain delon
simone signoret

pierre fresnay

arletty

serge reggiani

françoise dorlèac

jean-paul belmondo

danielle darrieux

jean-louis barrault

annie girardot

setembro 14, 2014

************************** SALA VIP: LAURA (1944)

gene tierney


O MISTÉRIO de uma MULHER

Assisti LAURA diversas vezes, já não sei quantas foram. Sempre me encanta. Um dos melhores títulos da vitoriosa carreira do diretor vienense Otto Preminger e uma das histórias mais fascinantes do Cine Noir dos anos 1940. Iniciado por Rouben Mamoulian, centra-se no mistério em torno da personagem feminina do título, uma mulher que fascina muitos homens, desde o sentimento necrófilo do tenente-detetive encarregado da investigação, até o sincero entusiasmo amoroso de um sedutor gigolô de refinado porte, passando pela paixão paranoica de um maduro e ciumento escritor.


A trama se passa na cidade de Nova York, onde uma sofisticada mulher chamada Laura Hunt (Gene Tierney) foi assassinada. O detetive Mark McPherson (Dana Andrews) assume o caso, e suas primeiras tarefas são interrogar dois suspeitos, um jornalista chamado Waldo Lydecker (extraordinário Clifton Webb) e Shelby Carpenter (Vincent Price, como sempre, canastrão), o noivo da falecida.



Preminger maneja o filme com leveza e elegância. Refinamento na direção e tensão na construção do suspense. Um magnífico roteiro com engenhosos diálogos e a esplêndida fotografia do grande Joseph LaShelle (que levou seu único Oscar com este título) dotam o relato de um tom enigmático que alcança sua máxima expressão com a aparição quase fantasmagórica da estrela Gene Tierney, junto ao quadro que se destaca na sala onde transcorre boa parte da ação. 

Perfeitamente dentro do thriller noir clássico, com as características de ambientação urbana, definição da psique de personagens ambíguos e uma perturbada trama, atmosfera taciturna, intervenção da femme fatale como eixo do assunto e utilização da narrativa em flashback. LAURA é uma intensa película romântica, com os ciúmes e a obsessão como principais mecanismos temáticos.



70 anos depois, tornou-se possivelmente um dos clássicos mais adorados, mais queridos. É ao mesmo tempo um perfeito representante de seu tempo e também um filme à frente de sua época. Tem um estilo clássico, mas simultaneamente a narrativa tem ousadias, até a câmara faz suaves ousadias. Toda a trama se desenvolve em um torno de uma jovem mulher estupendamente bela – Laura. Porém, passam-se uns 30 preciosos minutos dos 88 de ação antes que ela apareça. 

E quando Laura finalmente aparece, é num flashback, que é o relato do personagem que mais tempo ocupa a tela e a narrativa, Waldo Lydecker, sujeito insuportável, um dos tipos mais presunçosos, mais metidos a besta, mais repulsivos que o cinema já mostrou, interpretado magistralmente por Clifton Webb. Na época do filme, o ator tinha apenas 45 anos, mas parecia ter pelo menos duas décadas e meia a mais, um contraste absurdo com a exuberante beleza e juventude de Gene Tierney, que tinha apenas 24 anos quando fez o filme.



Preste atenção na sensível canção tema de David Raksin, que depois ganharia letra de Johnny Mercer, virando um imenso sucesso, um standard, uma pérola da grande música norte-americana, gravada por cantores e cantoras importantes dos anos 1940 e 1950. 

O filme teve cinco indicações ao Oscar: Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante (Clifton Webb), Melhor Direção de Arte em Preto-e-Branco e Melhor Fotografia em Preto-e-Branco. Ganhou só o de fotografia.

Nota: ***** (ótimo)


FICHA TÉCNICA

LAURA (Idem). Data: 1944. País: EUA. Duração: 88 min. P & B. Produção e Direção: Otto Preminger (Twentieth Century-Fox). Roteiro: Jay Dratler, Samuel Hoffenstein e Betty Reinhardt. Adaptação do romance de Vera Caspary. Fotografia: Joseph LaShelle. Edição: Louis Loeffler. Música: David Raksin. Cenografia: Lyle Wheeler e Leland Fuller (d. a.); Thomas Little e Paul S. Fox (déc.). Vestuário: Bonnie Cashin. 

Elenco: Gene Tierney (“Laura Hunt”), Dana Andrews (“Det. Lt. Mark McPherson”), Clifton Webb (“Waldo Lydecker”), Vincent Price (“Shelby Carpenter”), Judith Anderson (“Ann Treadwell”)     , Dorothy Adams e Grant Mitchell.

O DIRETOR

OTTO PREMINGER
(1905 – 1986)

Estudou Direito e Filosofia e trabalhou como diretor de teatro antes de se dedicar ao cinema. Em 1935, optou por deixar a Áustria, exilando-se nos Estados Unidos. Apesar da origem judia, atuou em alguns filmes no papel de nazista, por causa do seu sotaque. Tinha fama de pessoa rude e desagradável. Gostava de trabalhar com os temas dos desvios e conflitos comportamentais, deixando grandes obras em diversos gêneros cinematográficos, do romance ao filme de guerra. 

Seus principais filmes são Laura (1944); Entre o Amor e o Pecado / Forever Amber (1947); Alma em Pânico / Angel Face (1952); Carmen Jones / Idem (1954), musical protagonizado por atores negros, que revelou Dorothy Dandridge e Harry Belafonte; O Homem do Braço de Ouro / The Man with the Golden Arm (1955), polêmico drama sobre drogas, que deu a Frank Sinatra seu maior papel no cinema; Bom Dia, Tristeza / Bonjour Tristesse (1958), sensível e marcante drama baseado no best-seller de Françoise Sagan; Anatomia de um Crime / Anatomy of a Murder (1959), cultuado drama de tribunal; Exodus / Idem (1960), épico sobre a formação de Israel após o final da Segunda Guerra Mundial; Tempestade sobre Washington / Advise & Consent (1962), abordando a homossexualidade no universo político; A Primeira Vitória / In Harm's Way (1965); e Bunny Lake Desapareceu / Bunny Lake Is Missing (1965), um dos filmes-símbolos da década de 1960.

O ELENCO

GENE TIERNEY
(1920 – 1991)

Belíssima, nascida em uma família de posses, estudou nas melhores escolas da costa leste dos Estados Unidos e da Suíça. Foi casada com o estilista francês Oleg Cassini, com quem teve duas filhas. Iniciou a carreira artística no teatro, em 1938. 

Seu primeiro filme, A Volta de Frank James / The Return of Frank James, em 1939, dirigida por Fritz Lang. Sendo os mais importantes de sua carreira: Caminho Áspero / Tobacco Road (1941), de John Ford; O Diabo Disse Não / Heaven Can Wait (1943), de Ernst Lubitsch; Laura (1944); Amar Foi a Minha Ruína / Leave Her to Heaven (1945), de John M. Stahl; O Fio da Navalha / The Razor's Edge (1946), com Tyrone Power e Anne Baxter; O Fantasma Apaixonado / The Ghost and Mrs. Muir (1947), de Joseph L. Mankiewicz; A Ladra / Whirlpool (1949), de Otto Preminger; Passos na Noite / Night and the City (1950), de Jules Dassin; Tempestade Sobre Washington (1962), com Henry Fonda. 

Sua última atuação foi na minissérie televisiva Scruples, em 1980. Em 1946 foi indicada ao Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas na categoria de Melhor Atriz pela atuação em Amar Foi a Minha Ruína.

DANA ANDREWS
(1909 – 1992)

Em 1931, ele viajou até Los Angeles, Califórnia, buscando oportunidades para trabalhar como cantor. Ali assumiu vários empregos e um dos seus empregadores lhe pagou um curso na prestigiosa escola teatral Pasadena Playhouse. Pouco depois assinaria contrato com o famoso produtor cinematográfico Samuel Goldwyn e em 1940 estrearia em um filme de William Wyler, O Galante Aventureiro / The Westerner, atuando ao lado de Gary Cooper. 

Chamou a atenção como um jovem vítima de linchamento no faroeste clássico Consciências Mortas / The Ox-Bow Incident (1943), estrelado por Henry Fonda. Na sequência da carreira, assumiria papéis em filmes noir. Em 1946, seria um soldado que retorna da guerra em Os Melhores Anos de Nossas Vidas / The Best Years of Our Lives. Nos anos 1950, o alcoolismo fez com que sua carreira declinasse, sendo forçado a atuar em produções menores. Em 1963, foi eleito presidente do Screen Actors Guild. Entre 1969 e 1972 ele apareceu como o presidente de faculdade Tom Boswell na novela da NBC, Bright Promise.

CLIFTON WEBB
(1889 – 1966)

Começou como dançarino de salão, em Nova York, atuando depois em musicais e dramas na Broadway e em Londres, além de filmes mudos. Seu primeiro verdadeiro sucesso aconteceu na meia-idade como o elegante vilão Waldo Lydecker em Laura (1944), seguido de Elliott Templeton em O Fio da Navalha (1946) - ambos lhe valeram indicações ao Oscar. 

Seu famoso personagem Mr. Belvedere, apresentado em uma série de filmes da Fox, foi supostamente não muito longe de sua exigente, meticuloso e desgastante persona da vida real. Ele era inseparável de sua mãe dominadora, Maybelle, com quem viveu até a morte dela, aos 91 anos, seis anos antes de sua própria morte.

JUDITH ANDERSON
(1897 – 1992)

No início dos anos de 1930, ela já se estabelecera como uma das maiores atrizes do teatro de sua época e foi uma grande estrela na Broadway em todas as décadas de 1930, 1940 e 1950. Em 1936, interpretou Gertrude de Hamlet, com John Gielgud, em uma produção que também contou com Lillian Gish como Ofélia. Em 1937, juntou-se à Old Vic Company em Londres e interpretou Lady Macbeth, ao lado de Laurence Olivier. Em 1947, ela triunfou como Medeia, ganhando o prêmio Tony de Melhor Atriz. 

Em Hollywood, seus traços marcantes e não convencionalmente atraentes renderam-lhe oportunidades limitadas e como coadjuvante. Ela, naturalmente, preferia o palco. No entanto, fez um punhado de filmes importantes, sendo nomeada para Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em Rebecca, a Mulher Inesquecível / Rebecca (1940), de Alfred Hitchcock (1940). Sua governanta Mrs. Danvers é considerada um dos mais memoráveis e sexualmente ambíguos vilões do sexo feminino. Seu trabalho no cinema continuou na década de 1950, quando também participou de programas na televisão. 

Ela interpretou Herodias em Salomé / Idem (1953), Memnet em Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments (1956), de Cecil B. de Mille, e teve um desempenho memorável como Big Momma no filme da peça de Tennessee Williams, Gata em Teto de Zinco Quente / Hot Tin Roof (1958). Apesar de dois casamentos, a atriz esteve sujeita a especulações sobre sua sexualidade durante toda a sua carreira. Em sua biografia de Otto Preminger: The Man Who Would Be King (2007), Foster Hirsch afirma sem rodeios que Anderson era homossexual, estendendo-se essa especulação até os dias atuais.

VINCENT PRICE
(1911 – 1993)

Veio de uma família rica, cercada por um ambiente cultural acima dos padrões e envolta em tradições antigas à moda europeia. Começou no teatro, depois passou ao cinema onde ficou mundialmente conhecido por contracenar em filmes de suspense e terror, o que lhe rendeu a alcunha de "Mestre do Macabro". A sua trajetória é longa e inclui muitos clássicos. Seu último filme foi Edward Mãos de Tesoura / Edward Scissorhands (1990), contracenando com Johnny Depp.