fevereiro 06, 2011

************* SALA VIP: “NASCIDA ONTEM




NASCIDA ONTEM
(Born Yesterday, 1950)

País: EUA
Duração: 103 mins.
P & B
Produção: S. Sylvan Simon (Columbia Pictures)
Direção: George Cukor
Roteiro: Albert Mannheimer
Adaptação da peça de George Kanin
Fotografia: Joseph Walker
Edição: Charles Nelson
Música: Frederick Hollander
Cenografia: Harry Horner (d.a.); William Kiernan (déc.)
Vestuário: Jean Louis
Elenco:
Judy Holliday (“Billie Dawn”), Broderick Crawford (“Harry Brock”), 
William Holden (“Paul Verrall”), Howard St. John,
Frank Otto, Larry Oliver e Barbara Brown

Nota: **** (muito bom)

Prêmios: Oscar de Melhor Atriz;
Globo de Ouro de Melhor Atriz em um Musical ou Comédia

A LOURA que VEIO da BROADWAY

judy holliday, broderick crawford
 e william holden
Provavelmente muitos pensaram que Judy Holliday daria continuidade ao império das louras, em Hollywood. Não deu, e por dois motivos. Primeiro, porque a atriz norte-americana, nascida ao dia 21 de junho de 1921, comportava-se como uma morena, ou uma não-loira, ao menos, ou simplesmente não se comportava como uma mulher de prateleira. Não havia, nela, um aproveitamento de si mesma enquanto femme fatale oxigenada. Segundo, porque Judy Holliday, nome artístico de Judy Tuvin, morreu antes de surgir outro presidente interessado em se envolver com louras produzidas em laboratório: ao dia 7 de junho, de 1965, dias depois de completar 43 anos.

Um parêntese: a filmografia de Holliday, de fato, levava-a ao caminho do reinado pela cor do cabelo. Mas houve uma encruzilhada que a fez mudar, subitamente, de figura. Ainda que, dez anos depois, voltasse a “Essa Loura Vale um Milhão”. Eu me refiro ao filme dirigido por George Cukor, NASCIDA ONTEM, que deu à moça o Oscar de Melhor Atriz, num ano em que concorriam celebridades incontestes, tais como Bette Davis e Anne Baxter (ambas protagonistas em “A Malvada”), Eleanor Parker (“À Margem da Vida”) e Gloria Swanson (parodiando a si mesma, na obra máxima de Billy Wilder, “Crespúsculo dos Deuses”).

Em 1950, Judy Holliday já havia feito três longas: “Encontro nos Céus” (George Cukor, 1944), “A Costela de Adão” (George Cukor, 1949) e “Um Dia em Nova York” (Stanley Donen e Gene Kelly). Mas é na terceira experiência ao lado de George Cukor que ela brilha – e explode – na pele da carismática loura-burra (e pobre) Emma “Billie” Dawn, amante de um corrupto homem de negócios (Broderick Crawford, fazendo, em excessos deliberados, um grande troglodita) que se instala em Washington para corromper um senador em benefício de sua conta bancária. NASCIDA ONTEM é, originalmente, um texto para teatro, assinado por Garson Kanin. A própria Holliday havia interpretado o mesmo papel na Broadway, com bastante sucesso. A voz esganiçada da personagem, o jeito postiço de andar, a translúcida burrice, tudo isso é ingrediente forte para conquistar o público, tendo uma atriz inteligente e extremamente talentosa como veículo. Some-se a isso a presença imponente, elegante, “macia” de um William Holden (Paul Verrall) de óculos, fazendo o jornalista intelectual, contratado pelo amante de Holliday para cuidar da cultura da moça.

NASCIDA ONTEM é matriz para uma porção de personagens, em todo o mundo, que brincaram com a idéia de loura burra. Aqui no Brasil, programas de auditório nem mesmo perceberam que faziam – e ainda fazem – uma pálida imitação do grande tipo vivido por Judy Holliday, hoje esquecida, e que morrera cinco anos depois de ter descoberto um câncer de mama.

Para sempre, nascida ontem.

Texto de 

HENRIQUE WAGNER
poeta e crítico de cinema

holden e holliday

5 comentários:

Marcia Moreira disse...

Assisti Nascida Ontem e, confesso, dei altas gargalhadas com a Billie-burra e Broderick Crawford gritando? "Billie!". Ótimo filme.

Marcelo Castro Moraes disse...

Ela ganhou o Oscar no ano que Gloria Swanson atuou em Crepusculo dos Deuses?? Cara, Oscar já vinha com injustiças desde dessa época então. Nada contra a Judy Holliday, gostei dela bastante quando eu a conheci em A Meia Luz, mas convenhamos, aquele ano era para Gloria Swanson ou até mesmo para Bette Davis em A Malvada.

Claroscureaux disse...

Wonderful photo collection!

Leandra disse...

Esse texto é uma delícia. Adoraria interpretar a Billie no teatro.

Leandra Leal

AnnaStesia disse...

Gente, pára tudo! Adoro esse filme e adoro Judy Holliday! Mais um acerto do grande Cukor (que fez os imprescindíveis E o vento levou, My fair lady e Núpcias de escândalo - amo todos!).
Judy é um caso à parte! Carismática, inteligentíssima, divertida, talentosa e, como se não bastasse, bonita. Deixou esse mundo cedo demais!